terça-feira, 12 de abril de 2011

Ovo Frito

Uma vez, achei uma galinha na churrasqueira da minha casa, chocando. E como meu prato predileto era arroz com ovo frito... Acha que deixei a galinha chocar os ovos? Nananinanão! Catei todos e levei para dentro. Depois fiquei tratando da minha galinha que botava ovos para o almoço. Em especial, o meu almoço. E todo dia, quando chegava da escola, eu ia ao ninho da galinha, catava meu ovo e levava para minha mãe fritar, para eu comer arroz com ovo frito. Todo dia. Havia dias em que eu ficava esperando a galinha botar o ovinho, para eu poder pegar, levar para minha mãe fritar, para eu almoçar.
Certo dia, a galinha, que me dava pão de cada dia, resolveu ir embora.
Chorei, chorei muito. Não podia a deixa ir. Quem ia me dar ovos para o almoço todos os dias?  Minha mãe explicou que a galinha precisava chocar, queria ter filhotinhos e que ela compraria ovos para mim no mercado. Concordei e deixei a galinha seguir seu destino.
No outro dia, quando cheguei da escola, já sem minha galinha, pedi para minha mãe o prato principal: Arroz e ovo frito.  Sabe o que ela me disse? NÃO! Hoje não tem ovo frito nessa casa, Mirelly! Todo dia, ovo frito, ovo frito, ovo frito. Você não enjoa disso?  A gente tem comer outras coisas, Mirelly. Não só ovo, ovo, ovo...”  Fez aquele discurso (e o principal, mentiu para mim).
Mas eu queria ovo frito.
Armei o maior berreiro. Chorei, esperneie, gritei. Fiz o que pude. E minha mãe se manteve firme com sua palavra. “NÃO! Hoje não tem ovo frito nessa casa, Mirelly!” Foi quando tive a brilhante ideia de esperar meu pai chegar para ele fritar o ovo para eu poder almoçar. Quanta ingenuidade. Claro que ele ficaria do lado da patroa. 
Meu pai chegou.
Fui correndo a seu encontro, com o ovo na mão, chorando, reclamando e explicando o que havia acontecido com a galinha, e que minha mãe não havia comprado os ovos como prometido (mas restava um). Pedi, encarecidamente, que fritasse o ovo para eu poder almoçar. E o que ele disse? "NÃO! Sua mãe disse não, então é não!".
Mas eu queria ovo frito.
Chorei, chorei mais ainda do havia chorado antes dele chegar. Chorava e repetia inconsolavelmente: “Ninguém em ama nessa casa. Ninguém gosta de mim. Eu só queria um ovo frito no almoço, mas nem isso, nem isso podem fazer por mim. EU VOU MORAR COM A MINHA VÓOOOOOOOOOOOOOOOOO. Porque a minha vó me ama. Vocês não me amam”.
Meu pai, todo carinhoso, me chamou na cozinha e fez a seguinte pergunta: "Você quer ovo frito, filha?".  Sem nem pensar, fui logo dizendo que sim. Sentei a mesa, com um sorriso que não me cabia.
Comi o ovo frito.
Meu pai repetiu a pergunta: "Você quer ovo frito?"  Agora, não tão amoroso como da primeira vez. Comi mais um ovo. E ele tornava a perguntar: Você quer ovo frito?  E de novo: Você quer ovo frito? Eu não tinha tempo de responder. A cada vez que repetia a pergunta era um ovo que ele punha no meu prato. Eu fui comendo, comendo, comendo... até acabarem todos os ovos da cartela que ele havia comprado "especialmente” para o meu almoço.
 Bom, hoje eu moro com minha avó e não como mais ovo frito.


Uma 

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